um eremita moderno

Um pouco de tudo e muito de cada pouco

O mundo ganhou uma FIFA World Cup, eu uma experiência de vida!

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Antes da Copa do Mundo começar, todo voluntário que não morava no Rio de Janeiro se perguntou: “Onde eu vou morar por um mês?”

apEu escolhi a mesma opção da Copa das Confederações, alugar um apartamento e procurar outros voluntários para morarem comigo. Várias noites, sem dormir, procurando um imóvel BBB (bom, bonito e barato) e eu só recebia orçamentos de barracos no Vidigal por R$30.000,00/ mensal e coberturas no Leblon R$100.000,00/ mensal, já estava cogitando encarar um Couchsurfing! Quando estava quase desistindo apareceu o Geraldo, da Corcovado Turismo, para salvar a minha Copa. Apartamento a uma quadra da praia, de Copacabana, bonito, e mais barato que um imóvel na zona norte, enfim, um legítimo BBB!  Parte 2: Encontrar mais nove voluntários. Um mês depois éramos: Um Africano, um Argentino (ele foi embora após 2 semanas e ficou um Francês em seu lugar), uma Brasileira, um Colombiano, um casal Canadense e quatro Alemães.

Como foi a convivência? AMAAAAZING!

O dono pediu que eu fosse a “mamãe da casa”. As únicas duas regras consistiam em: sem barulho após às 22h e ninguém em casa além dos dez moradores. A regra 1 tivemos dificuldade em cumprir na primeira semana e a segunda era o mesmo que: tragam seus amigos para cá! hahaha. Às vezes, eu acordava e quando chegava na sala havia pessoas estranhas no sofá, até no chão. Quase todo dia trocávamos nossos carregadores sem querer, party every day, tínhamos nossos jantares em família, fazíamos reuniões para dividir as tarefas domésticas e as meninas organizaram uma viagem à Ilha Grande.  Quando nos encontrávamos pelo Maracanã íamos correndo nos abraçar. Só amor! Muito amor! Dica 1: Pelo menos uma vez na vida more com pessoas de uma cultura diferente da sua, você conhecerá seus limites e provavelmente os superará.

Hora de começar a trabalhar!

IMG_20140713_200447549O meu coordenador solicitou à FIFA que em 2014 eu continuasse na  Equipe de Cleaning and Waste Management  (lê-se Kanye West. Isso mesmo! É o nome daquele rapper Americano hahaha. Por algum motivo desconhecido, todo mundo pronunciava assim). Em cada nível do Maracanã havia dois membros da minha equipe, além do nosso coordenador supervisionando o estádio inteiro. Em todos os jogos fizemos rodízio, para que trabalhássemos em todos os níveis. Independente do andar que estávamos, a função era a mesma e consistia em duas partes: 1ª: Supervisionar se a empresa terceirizada estava limpando o Maracanã. 2ª: Se os catadores da Coca-Cola estavam coletando o resíduo reciclável.

Em todos os jogos o  Maracanã recebeu entre 73 e 74 mil espectadores, o que demandava uma força de trabalho de 12 mil pessoas. Conclusão: 86 mil pessoas, em um estádio, gerando resíduos. Em meio à multidão, em hipótese alguma lixeira cheia, banheiro sujo, chão molhado… Se isso acontecesse tínhamos que procurar alguém para limpar. Particularmente, fizemos um ótimo trabalho.

Curiosidade: 3 membros da equipe trabalham no Comitê Olímpico. Eles foram como voluntários, buscando adquirir experiência para as Olimpíadas.

Argentina x Bósnia – O dia que quase perdi minha credencial

10462767_730296237031023_8310458235961984339_nComo de costume, ao término do jogo fui encontrar com minha equipe. Ao tentar cortar caminho , sem querer, fiquei presa na área restrita (por onde os jogadores passam para ir embora). Eu estava sem celular, mas achando sensacional estar com a seleção da Bósnia e Argentina. Só quem deveria estar lá era a equipe de transporte, responsável pela logística de saída dos jogadores. Logo, um voluntário veio me perguntar o que eu estava fazendo ali, fui sincera e falei o que estava acontecendo. Ele me disse: Daqui a pouco o Messi vai passar, tira uma foto com ele! Falei que não, que a FIFA ia me matar. Ele retrucou: Ninguém pode brigar com você! Então, ficamos pertinho do ônibus e quando o Messi estava entrando pedi para tirar uma foto.

No segundo seguinte, uma LOC (quem trabalha na FIFA) quase me matou. Me contemplou com o maior esporro da minha vida, mandou o voluntário apagar a foto, disse que ia cancelar minha credencial. Na hora eu nem tava preocupada com a foto, só com a bronca que meu coordenador poderia levar por eu ter ”quebrado o protocolo”. Para minha sorte, apareceu o coordenador de transporte e me disse para ficar tranquila, que não iriam cancelar minha credencial, o esporro foi para não incentivar os outros voluntários a fazerem o mesmo. Quando finalmente encontrei minha equipe, como quem encontra a mãe, comecei a chorar litros. Ninguém entendeu nada, porque eu não conseguia falar. Quando relatei o que havia acontecido todo mundo riu de mim. Combinei com o chefe que só postaria a foto quando o Blatter estivesse em casa.

Reflexão: Às vezes, premeditamos muito a vida. As coisas mais divertidas acontecem ao acaso. Eu estava sem celular,  queria cortar caminho e acabei tirando uma foto com um mito do futebol mundial.

Credencial x Ego

Se na música do D2 “o que vale é o que você tem e não o que você faz”, na FWC o que valia era quantos números você tinha na credencial. Mesmo sendo voluntariado havia muita competição. Quem trabalha onde, quem dá mais entrevistas, quem são os queridinhos dos coordenadores, quem ganha mais presentes, quem tira foto com o Fulano, quem pode assistir aos jogos, all areas na credencial, quem tem contato com os jogadores e por aí vai. Comecei com uma credencial modesta, com apenas 2 dos 9 números e terminei a Copa com 8.

Missão FIFA

Duas vezes, os voluntários, do Rio de Janeiro, foram chamados para ir a Cuiabá trabalhar de STS (voluntário que dá informação ao público). Nas duas vezes fomos e voltamos no mesmo dia, pois no dia seguinte havia jogo no Maracanã.

IMG_20140617_214111015Rússia x Coréia: Fomos em dois aviões da FAB, quando chegamos ao aeroporto o ônibus VIP da FIFA já estava nos esperando para irmos ao estádio. Para nossa surpresa, os voluntários da Arena Pantanal nos recepcionaram com uma festa. Ao término do jogo, uma voluntária fofa nos deu copos personalizados da Coca. Animação para cá, animação para lá, até chegar a notícia de que um dos aviões estava com problemas. A solução foi substituí-lo por um Hercules (avião de guerra). A dúvida era quem iria voltar no mesmo avião que foi e quem iria demorar o dobro do tempo da viagem, no Hercules. Já que nenhum estrangeiro podia ir no avião de guerra, eu tive a enorme honra e prazer de passar 5 horas nesse confortável avião, que tem uma acústica ensurdecedora HAHAHA. Confesso que é uma coisa legal de se fazer, mas só uma vez na vida.

IMG_20140624_081939286_HDRColômbia x Japão: Madrugamos de novo no aeroporto, dessa vez fomos com o Hercules. Uma hora de voo e pousamos, todo mundo se olhou. Como uma viagem de 5 horas poderia ter durado 1h? Na verdade, só passeamos pelo espaço aéreo do Rio de Janeiro, quem deu problema dessa vez foi o Hercules. Retornamos à sala de espera do aeroporto, enquanto consertavam o avião, minutos depois a seleção da França chegou ❤ Desistiram de tentar arrumar o avião e nos mandaram para Cuiabá de jatinho mesmo!

Chegando lá o que mais tinha era Japonês que não sabia falar inglês, haja mímica para explicar aonde deveriam ir. Como de costume, por ser o último jogo da Arena Pantanal, os voluntários ganharam uma festa padrão FIFA. O Fuleco foi dançar com a galera, tinha DJ e mascote de presente para todo mundo.

Missão Cerimônia de Premiação.

Pode ter certeza que cada segundo que você assistiu foi minuciosamente cronometrado e planejado. Cinquenta voluntários foram escolhidos para fazer um Test drive no palco da cerimônia de premiação, da Copa das Copas. Eu era da seleção campeã (Tahiti kkkkk) recebemos medalhas, beijamos o troféu, comemoramos. O áudio e a trilha sonora foram ajustados, o tempo cronometrado. Era só esperar o campeão!

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Já que estávamos no gramado, aproveitamos para tirar fotos. Ao fundo, o local onde a seleção campeã tirou a foto oficial, após a vitória.

Se em 2013 voluntário foi recriminado em 2014 fomos celebridades

Bastava vestir o uniforme de voluntária para a cada dois passos alguém me parar. Achei interessante a curiosidade tanto dos brasileiros quanto dos estrangeiros. A primeira vez, uma mulher me olhou e disse: “Parabéns voluntária!”. Eu olhei bem para ela e perguntei se estava falando sério. Com um sorriso, me respondeu que sim. Ganhei meu dia!

Também teve uma menina que  me disse que não ”trabalharia de graça para FIFA”, ela achava mais digno um trabalho social”, Então eu sorri para ela e disse: Como no início do ano fiz um intercâmbio para promover o desenvolvimento socioambiental em um país, na América Central, não tô em débito com a sociedade! E você? Quantos voluntariados sociais já fez? Minhas palavras foram como um tapa na cara dela, porque ela não passava de uma imoral.

A maioria das pessoas me perguntavam se eu podia ir ao estádio, assistir aos jogos, se ganhava dinheiro (pelo menos para mim, a Copa foi lucrativa, ganhei mais dinheiro que em um mês de trabalho), se tinha ingressos, se meus pais não se importavam de eu estar longe de casa. Alguns não falavam comigo, só diziam: Olha a voluntária do Mundial!

Entre todas as pessoas que vieram conversar comigo, dois Argentinos foram os mais marcantes. Um dia antes da final, eu estava tomando café da manhã sozinha e um deles sentou-se à mesa. Começou a contar que tinha acabado de chegar, não sabia onde ia dormir, não tinha ingressos, mas que ele fazia questão de estar lá! Para que a seleção Argentina soubesse que teria apoio, independente do resultado. O segundo argentino, foi no mesmo dia, estava esperando ser atendida e ele veio quase chorando me dizer para aproveitar o dia seguinte, ele e todos os seus amigos fariam qualquer coisa para estar na final e que eu tinha uma oportunidade de ouro.

FINAL!

Dias antes da final, a FIFA organizou uma reunião sobre o Match Day 64, O GRANDE DIA! Eles tinham mapas indicando a rota que a Shakira e Ivete fariam, como seria a credencial, horário dos ensaios, a possibilidade de pirotecnia, muito tempo planejando cada detalhe.

IMG_20140713_141121606_HDRNo último jogo dei uma de Fred, me fiz de cone, e fui assistir à final. Fiquei em um local onde ninguém deveria estar, mas como eu tinha oito números na credencial ninguém quis questionar por que eu estava lá.

Apesar de amar futebol, confesso que as lembranças das duas últimas FWC são bem vagas. Essa foi primeira final que eu me lembrarei do começo ao fim. Principalmente pela expectativa da cerimônia de encerramento, que ensaiamos. Na hora comentei com uma LOC que deveriam ter mostrado o vídeo do ensaio dos voluntários para a seleção campeã. Eles deram um show de futebol, mas a nossa comemoração foi mais empolgante que a deles.

Foi impossível não me emocionar assistindo a premiação, a foto oficial, a alegria dos torcedores. Naqueles últimos minutos de Copa, eu vi que o meu esforço dos últimos meses tinha valido a pena. Que teve Copa! E foi a melhor de todos os tempos. Com o olhar atento acompanhava tudo, e me senti orgulhosa por cada detalhe que foi exposto na reunião ter dado certo. Troquei minha camiseta de voluntária por uma da Alemanha, ganhei um chapeu e mais 3 copos personalizados da Coca 😉

A transmissão da Copa encerrou, mas no Maracanã a festa continuou.

10494664_10152610234437053_7688621944689738341_nO nosso centro de voluntários, no Maracanãzinho,  tornou-se o palco de uma festa. DJ, open bar, comida e muitos presentes! Assim mais de 1.000 voluntários e LOCs comemoraram até 1h, até chegar um Steward e dizer que tínhamos que ir embora. Fomos embora? Não! Fomos para o lounge VIP e nos sentamos na arquibancada, apenas o gramado estava iluminado e a lua estava absurdamente linda! Enquanto o mundo pensava que a Copa havia acabado, nós ainda estávamos lá. Foi uma ótima maneira de terminar o dia!

A Copa acabou!

Se quem assistia aos jogos pela Tv já ficou com depressão pós Copa, imagina eu que ia ao Maracanã todos os dias, durante um mês. No dia 14 de julho fui até lá, só para dar tchau e dizer aos Coordenadores: Muito Obrigada! Ao contrário do que se dizia na mídia, nós não éramos explorados, pelo contrário, tínhamos muitas regalias e mimos. Sheila, Garrido e o Luiz sempre me trataram com muito carinho e atenção. Sempre estavam à disposição, fazendo de tudo para que não nos faltasse nada e nos dando total liberdade para nos expressarmos. Além de chefes, se tornaram amigos!

Aos meus amigos voluntários, não tenho palavras para agradecer esse mês que passamos juntos. Obrigada por tudo que me ensinaram, pela animação nas festas, pelos dias de Fan Fest, pelos amor quando a Costa Rica  voltou para casa e pelo amor³ quando o Brasil foi eliminado, pelas tardes de brigadeiro, enfim, por tudo!

Espero vê-los em 2016 e na FIFA World Cup 2018.

ps:10525916_10203438336993327_968221264339013401_nIMG-20140705-WA0004 Desejo do fundo do coração, que um dia você encontre pessoas e possa sentir por elas o mesmo carinho e afeição que tenho pelo Phelipe, Thaís e Henrique. Gente que conversa pelo olhar, lê seus pensamentos. Amigos e irmãos é pouco para nomear o que temos! Amo vocês.

3 pensamentos sobre “O mundo ganhou uma FIFA World Cup, eu uma experiência de vida!

  1. Amiga, foi sensacional dividir este momento com vc. Você é uma ótima companhia, amiga-irmã-mãe que amo demais! Estaremos sempre juntas, para o que der e vier. Beijo no coração

  2. Nicolle parabéns você é uma garota muito talentosa e honesta, você vai longe..Muito sucesso e felicidade! Foi um prazer fazer parte dessa experiência incrível de vocês. Um abraço.

  3. Oi Nicoo
    Tô sem facebook.. Mas eu achei isso aquiii

    Que maravilhosooo.. To admirada e orgulhosa!!
    Que experiência maravilhosa.. Que história incrível!! Parece um sonho, né?!

    E aquela menininha da faculdade virou uma moça vivida e madura! Parabéns amiga!!! Todo o sucesso.. Vc merece pelo esforço e dedicação…

    Super feliz por você… Até me empolguei lendo o relato..
    Fica com Deus amiga! A gente se esbarra por aí..

    Um grande abraço.. Beijooo!!

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